Movimentos culturais são sinônimo de resistência e luta da população negra contra o racismo
O dia 21 de março marca a luta contra a discriminação racial no mundo todo e os movimentos culturais são sinônimos de resistência e luta da população negra contra o racismo. O legado cultural dos povos afrodescendentes são inúmeros e envolve gastronomia, dialetos, danças, música, poesias, entre outros que marcam gerações e ecoam as dores, lutas, discriminações, escravizações, abusos e mortes contra esses povos ao longo do tempo, antes arduamente proibidas, e que cada vez mais ganharam força e se projetaram para as ruas.
As manifestações culturais se somam às inúmeras formas de luta e de resistência da população negra que impactam na história e no combate à discriminação racial em todo o mundo. A prática da poesia de rua – conhecido como Slam Resistência, por exemplo, com palavras cantadas e que está inserida no universo da cultura hip hop, constitui uma das cenas culturais que mais crescem pelo país, chamando atenção para temas que envolvem a juventude e o racismo; há também o hip hop, o rap e a capoeira, entre tantas outras formas de expressões artísticas voltadas ao combate a esse crime.
A gerente de Inclusão e Diversidade da Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju), Verônica Salustiano, reforça a necessidade de sensibilizar a população no que diz respeito às manifestações culturais da juventude negra urbana no combate ao racismo. “É muito importante que a sociedade como um todo debata o racismo e suas formas de expressão no nosso cotidiano. A promoção da igualdade racial também passa pelo eixo da cultura e é necessário perceber como olhamos para as manifestações culturais da população negra, principalmente da juventude, além de respeitar e garantir que as mais diversas formas de expressão possam existir na sociedade”, frisou.
Manifestações Culturais contra a Discriminação Racial
– Slam Resistência (Poesias faladas)
Compreendido como um fenômeno social, cultural e artístico que reúne juventude e poesia autoral em ruas, praças e pontos de cultura versam sobre racismo, feminismo, violência, machismo, drogas, desigualdade social, sexualidade, relações familiares, relacionamentos, entre outros.
A Zona Autônoma da Palavra (Slam Poesia) foi organizada no Brasil em 2008 por Roberta Estrela D’Alva, tendo ocorrido no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, em Pompeia, São Paulo. D’Alva foi a primeira slammer brasileira a participar da Copa do Mundo de Slam, em 2011, e a primeira pesquisadora a publicar um artigo sobre a cena da slam poetry em São Paulo. Ela também teve seu documentário “Slam: voz de levante (2018)”, lançado no Festival do Rio em 2017 e ganhou o prêmio de melhor direção de documentário e prêmio especial do júri.
– Capoeira
A dança sempre esteve nos movimentos culturais como uma das formas contra discriminações e comumente faz parte da história das pessoas negras desde a escravidão. É o caso da capoeira, presente em todo o território brasileiro e em mais de 150 países, com suas variações regionais e locais.
A capoeira começou como forma de defesa para os escravos negros e já chegou a ser considerada uma prática criminosa, o que hoje é reconhecida como esporte e arte, e uma importante ferramenta de resistência da cultura afro-brasileira.
Essa representação cultural mistura esporte, luta, dança, cultura popular, música e brincadeira, é considerada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade no Brasil, reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e traz aspectos como o saber transmitido pelos mestres, reconhecidos por seus pares, e a roda que reúne todos os seus elementos e se realiza de modo pleno.
– Hip Hop
Outro movimento artístico para a comunicação da juventude negra e periférica na luta contra o racismo é o hip hop. O termo tem na sua etimologia as danças da década de 60 em que se saltava (hop) e movimentava os quadris (hip), mas também há registros de que tenha sido criado por Afrika Bambaataa (Kevin Donovan).
Esse estilo surgiu com a produção dos DJs (Disc Jockeys) com seus sons nas ruas e becos que passou a unir a break dance, o rap, o grafite, e o estilo b-boy (b-girl) com suas grifes esportivas. Chegou ao Brasil pelas comunidades de baixa renda, batizado de “funk”, propondo uma ação de protesto político e social para o exercício da cidadania, vindo da Flórida (EUA) pelo ritmo “Miami Bass” de músicas com batidas rápidas.
Rap
O rap também integra o cenário cultural do hip hop, alinhando ritmo e poesia. Surgiu na Jamaica, em meados da década de 60, e ganhou impulso com o aparecimento de equipamentos sonoros que eram dispostos ao ar livre nos guetos deste país, dando vida às festas produzidas nas ruas jamaicanas.
Difundiu-se pelos Estados Unidos no início dos anos 70, particularmente entre os afro-americanos e os hispânicos, que ansiavam por uma sonoridade que traduzisse seu cotidiano e sua cultura. Já no Brasil, foi incorporado pela população negra, principalmente as que vivem em periferias em várias partes do País, que tem como uma de suas principais características, associar protesto à música. Artistas brasileiros como os Racionais MCs fizeram sucesso nos anos 90, e Emicida e Criolo, parte da cena atual, são algumas das referências para os principiantes deste estilo.
Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial
A Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o dia 21 de março de 1966, na Assembleia Geral contra à discriminação racial seis anos após 69 pessoas serem mortas pela polícia quando manifestavam pacificamente contra a aprovação do apartheid em Sharpeville, África do Sul, em 1960.
Com a promulgação da data em 1966, o sistema de apartheid da África do Sul ruiu e as leis e práticas racistas foram abolidas em muitos países. Também foi construído um quadro internacional para combater o racismo guiado pela Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial no enfrentamento a esses crimes.
Direitos
Popularmente conhecida como Lei Caó, a lei 7.716/89 prevê detenção de um a cinco anos para crime de discriminação racial e define, ainda, os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
Outro instrumento importante na luta pelos direitos dos afrodescendentes é o Estatuto da Igualdade Racial, lei nº 12.288, sancionada em 2010 que visa assegurar à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
(Edição: Lauane dos Santos/Governo do Tocantins)